A
identificação de um gene importante que controle um determinado caráter não
significa que ele seja o único responsável por tal característica.
Um
organismo existe graças a interação entre os seus genes (o seu genoma) e o
ambiente.
Diferentes
genes irão interagir em maior ou em menor grau, por meio de seus produtos
(proteínas, enzimas, hormônios etc).
Um
gene não age de maneira isolada e os seus efeitos dependem não só de suas
próprias funções, mas também das funções de outros genes, bem como da ação do
próprio ambiente interno (células, tecidos, órgãos etc) e externo (a fonte de
alimento, estresse ambiental, parasitas etc) ao organismo.
As
interações complexas de dois ou mais genes principais podem ser detectados pela
análise genética.
Esse
modo de interação, também chamado de interação
não alélica (tendo em vista que, neste caso a interação ocorre entre
alelos de locos diferentes). Acaba sendo revelado na prole de determinados
cruzamentos, que irão apresentar proporções mendelianas diferentes das
tradicionais.
A interação gênica pode acontecer de duas maneiras
principais:
Interação
gênica do tipo não epistática:quando
dois ou mais locos interagem entre si para formar o fenótipo dos indivíduos,
sem que nenhum um alelo de um loco impeça a expressão dos alelos dos outros
locos.
Interação
gênica do tipo epistática:
quando dois ou mais locos interagem entre si para formar o fenótipo dos
indivíduos, mas um ou mais alelos destes locos impedem a expressão dos alelos
do outro loco. Esse tipo de interação gênica também é chamada de epistasia.
Neste
caso,
O
gene que inibe a expressão é chamado de epistático
e o que
É
inibido é chamado de hipostático.
EXEMPLO:
A cor do fruto do pimentão (Capsicum annuum)
pode ser vermelha, marrom, amarela ou verde. Plantas homozigotas para a cor
vermelha foram cruzadas com plantas homozigotas para a cor verde, produzindo
uma F1 de frutos vermelhos. As plantas F1 cruzadas entre
si produziram a seguinte F2:
360
plantas produtoras de pimentões vermelhos.
115 plantas
produtoras de pimentões marrons.
128
plantas produtoras de pimentões amarelos.
47
plantas produtoras de pimentões verdes.
REPRESENTAÇÃO:
Plantas vermelhas (homozigotas) x plantas verdes
(homozigotas)
↓
F1 100%
vermelha (heterozigotas) x F1 100% vermelha (heterozigotas)
↓
360 plantas produtoras de
pimentões vermelhos
115 plantas produtoras de
pimentões marrons
128 plantas produtoras de
pimentões amarelos
47 plantas produtoras de
pimentões verdes
HIPÓTESES:
Poderíamos
suspeitar de um único loco controlando a cor dos frutos, sendo o alelo para a
cor vermelha dominante sobre a verde.
O
problema é que um único loco não consegue explicar a proporção fenotípica
encontrada na F2, uma vez que nela, além de pimentões vermelhos e
verdes, apareceram os amarelos e marrons.
Poderíamos
continuar sugerindo um único loco com interação do tipo dominância incompleta,
mas aí não explicaríamos a F1 híbrida e vermelha igual a um dos
progenitores.
E, neste
caso, aínda sobraria uma cor (ou a marrom ou a amarela) sem explicação
plausível para o seu aparecimento.
Também
poderíamos pensar em polialelismo, ou seja, 3 ou mais alelos para esse loco.
O problema
é que, as duas linhagens que começam esse acasalamento são homozigotas,
portanto, não seria possível haver mais de dois alelos segregando na sua prole.
Assim, como o padrão de herança desse caráter não
pode ser explicada por um único loco, podemos suspeitar da interação entre dois
locos independentes:
Neste
caso, começamos aplicando o padrão clássico de herança encontrado na segunda
lei de Mendel, ou seja, dois locos, cada um com dois alelos, sendo um dominante
e o outro recessivo.
A
diferença é que agora vamos considerar a herança de uma única característica (a
cor dos pimentões) e não de duas (com a cor e o formato da sementes das
ervilhas).
Analisando
a F1, parece que a cor vermelha é dominante sobre a verde.
Isso
é reforçado na F2, onde a maioria dos frutos foram vermelhos.
Voltando
as proporções na F2, podemos dividir as cores em 3 grupos, em termos de
proporções encontradas:
- Grupo de maior proporção: 360 plantas produtoras
de pimentões vermelhos
- Grupo intermediário: 115 plantas produtoras
de pimentões marrons
- Grupo intermediário: 128 plantas produtoras
de pimentões amarelos
- Grupo de menor proporção: 47 plantas
produtoras de pimentões verdes
Como seria definidos os diferentes genótipos desses
pimentões?
Trabalhando com um caráter cuja herança envolve
interação gênica do tipo não epistática:
Na F1,
todas os pimentões foram vermelhos e, na F2, eles foram maioria.
Então podemos considerar que, para produzir pimentões vermelhos, é necessário
que a planta herde dois alelos dominantes, um do loco 1 e o outro do loco 2 (Y_R_).
Como os
pimentões de cor verde foram minoria na geração F2, isso seria compatível
com o genótipo duplo recessivo (yyrr).
Já, para
as cores amarela e marrom, podemos considerar que as plantas produzirão
esse tipo de pimentões quando apenas um dos dois locos tiver um alelo
dominante.
Por
exemplo
As
plantas de genótipo Y_rr produzirão pimentões amarelos e as de genótipo yyR_
desenvolverão pimentões marrons.
Como
explicaríamos bioquimicamente o mecanismo de herança da cor dos pimentões?
Estudos
indicam que o loco Y, que controla a degradação da clorofila nos frutos do
pimentão pode interferir na sua coloração, que é controlada pelo loco R.
Plantas Y_R_ degradarão a clorofila e
produzirão caroteno de cor vermelha.
Plantas yyR_ não degradarão a clorofila que,
junto com o caroteno de cor vermelha, resultarão em frutos de cor marrom.
Plantas Y_rr degradarão a clorofila,
permitindo observar o caroteno de cor amarela acumulado em seus frutos.
Plantas
yyrr não degradarão a clorofila
e produzirão caroteno de cor amarela; este último então ficará mascarado pela
cor verde da clorofila.
Trabalhando com um caráter cuja herança envolve
interação gênica do tipo epistática:
Duas linhagens puras de plantas, de coloração
branca, produziram uma F1 100% vermelha. Na F2, foi observada uma proporção de
9 plantas vermelhas para 7 brancas.
Representando os cruzamentos:
Progenitores: linhagem pura de flores brancas x linhagem
pura de flores brancas
F1: 100% plantas de flores vermelhas
F2: 9 (plantas vermelhas) : (7 plantas brancas)
Analisando a F2, percebemos que 9 + 7 = 16:
Ou seja,
este parece ser um padrão variante da proporção conhecida de 9 + 3 + 3 + 1 = 16
da segunda Lei de Mendel.
Então,
devem ser dois locos envolvidos na produção das cores vermelhas e brancas
dessas flores
Analisando
um pouco mais esse cruzamento, vemos que nenhum dos progenitores produz
pigmento colorido, mas este aparece na F1. Ou seja, é como se os progenitores
fossem incapazes de produzir pigmento vermelho e a F1 restaurasse essa
habilidade.
Então,
até agora temos um caráter governado por dois locos, progenitores brancos, uma
F1 100% vermelha e uma F2 com 9/16 indivíduos vermelhos para 7/16 brancos.
É justamente
a F2 que nos ajuda a resolver esse cruzamento:
Em um
padrão de herança convencional, para dois locos com dois alelos (por exemplo, X/x e Z/z) os 9/16 indivíduos vermelhos da F2
deverão ter um genótipo do tipo (X_Z_).
Assim os
7/16 indivíduos deverão ser 3/16 (X_zz),
3/16 (xxZ_) e 1/16 (xxzz)
Portanto,
para que uma planta produza flores vermelhas, é preciso que ela possua ao menos
uma cópia do alelo dominante X e uma cópia do alelo dominante Z.
Logo,
como os progenitores produzem flores brancas e a F1, flores vermelhas, cada
progenitor deve ter somente um dos dois alelos dominantes destes locos.
Representação
dos genótipos de todas as gerações desse
nosso exemplo:
Progenitores: branca (XXzz) x branca (xxZZ)
F1: vermelha (XxZz)
F2: 9 vermelha (X_Z_): 7 branca (3 X_zz
+ 3 xxZ_ + 1 xxzz)
Como esse
tipo de interação gênica é conhecida?
Neste exemplo temos um caso conhecido como interação
gênica com epistasia recessiva dupla:
O gene
alelo dominante Z define a
manifestação da cor vermelha e o seu alelo z não leva a produção de nenhum pigmento colorido.
Porém, o
substrato usado pelo alelo dominante do loco Z precisa ser produzido pelo alelo dominante do loco X para que
ocorra a manifestação da cor vermelha.
Justamente
por não levar a produção desse substrato é que o alelo x é chamado de epistático sobre o alelo Z.
E como
explicar a cor branca das flores xxZ_,
xxzz e X_zz?
Neste
caso, deve existir um terceiro loco que define a produção do pigmento branco em
todos os indivíduos.
Assim,
somente nos indivíduos X_Z_,
que produzem pigmento vermelho, os pigmentos brancos ficarão mascarados nas
pétalas.
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por visitar help farmácia, por favor deixe seu comentário.