A morfina é um fármaco narcótico de alto poder analgésico
usado para aliviar dores severas. Pertencente ao grupo dos opióides, foi
isolado pela primeira vez em 1804 por Friedrich Sertürner, que começou a
distribuir a droga em 1817. A morfina passou a ser comercializada em
1827 pela Merck, que à época era uma pequena empresa química. A nome da
substância tem origem no deus grego dos sonhos, Morfeu (em grego:
Μορφεύς).
Com a invenção da agulha hipodérmica em 1857, o uso da
morfina generalizou-se para o tratamento da dor. Foi utilizada na Guerra
Civil Americana, resultando em 400 mil soldados com síndrome de
dependência devido ao seu uso impróprio.
A heroína, cujo nome científico é diacetilmorfina, foi derivada da morfina em 1874.
Usos clínicos
- Dor crônica: é a primeira escolha no tratamento da dor cronica pós-operatória, no cancro e outras situações. Tem vindo a ser substituída como primeira escolha pelo fentanil.
- Dor aguda forte: em trauma, dor de cabeça (cefaleia), ou no parto. Não se devem usar nas cólicas biliares (lítiase biliar ou pedra na vesícula) porque provocam espasmos que podem aumentar ainda mais a dor. Não é primeira escolha na dor inflamatória (são usados AINEs).
- Na anestesia geral como adjuvante a gás anestésico principal.
Mecanismo de ação
Os opióides são agonistas dos receptores opióides. Estes
existem em neurônios de algumas zonas do cérebro, medula espinal e nos
sistemas neuronais do intestino.
Os receptores opióides são importantes na regulação normal
da sensação da dor. A sua modulação é feita pelos opióides endógenos
(fisiológicos), como as endorfinas e as encefalinas, que são
neurotransmissores.
Existem quatro tipos de receptores opióides: mu, delta,
sigma e kappa. Os receptores mu são os mais significativos na ação
analgésica, mas os delta e kappa partilham de algumas funções. Cada tipo
de receptores é ligeiramente diferente do outro, e apesar de alguns
opióides ativarem todos de forma indiscriminada, alguns já foram
desenvolvidos que ativam apenas um subtipo.
Bulbo da papoula do ópio
Os opióides endógenos são peptídios (pequenas proteínas). Os
fármacos opióides usados em terapia apesar de não serem proteínas têm
conformações semelhantes em solução às dos opióides endógenos, ativando
os receptores em substituição destes.
Administração
Via oral, subcutânea, intramuscular ou intravenosa.
Epidural, transdérmica, intra-nasal são menos usadas. É frequente ser
dado ao paciente o controlo de uma bomba, ativada por um botão, que
injeta opióide de acordo com o seu desejo. Existe geralmente um
mecanismo que previne a injeção de doses elevadas (que podem provocar
danos graves), mas na grande maioria dos casos o controle pelo doente
reduz a ansiedade e as doses acabam até por ser mais baixas. Nos doentes
com dores não existe efeito eufórico, mas há efeito sedativo, portanto o
paciente limita-se a carregar no botão quando sente dores, mas de forma
a evitar o efeito de sonolência.
- Metabolizada no fígado. Efeito de 4 a 6 horas após administração.
- Ultrapassa a barreira hemato-encefálica e a placenta. Não deve ser usada na gravidez.
Efeitos clinicamente úteis
- Analgesia central com supressão da dor.
- Sedação na anestesia.
- A morfina é um fármaco que alivia dores extremas.
Efeitos adversos
Comuns:
- Euforia pode conduzir à dependência;
- Sedação;
- Miose: constrição da pupila do olho;
- Depressão respiratória: em overdose constitui a principal causa de morte. Há alguma diminuição da respiração mesmo em doses terapêuticas;
- Supressão da tosse: pode ser perigosa se houver infecções pulmonares;
- Rigidez muscular;
- Vasodilatação com calores na pele;
- Prurido cutâneo;
- Ansiedade, alucinações, pesadelos;
- Vômitos por ativação da zona postrema medular centro emético neuronal.
Incomuns:
- Libertação de hormônio prolactina com possível ginecomastia (crescimento das mamas) nos homens e galactorreia (secreção de leite) nas mulheres;
- Prolongamento do parto;
- Redução da função renal.
Efeitos tóxicos
Os narcóticos sendo usados através de injeções dentro das
veias, ou em doses maiores por via oral, podem causar grande depressão
respiratória e cardíaca. A pessoa perde a consciência, fica de cor meio
azulada porque a respiração muito fraca quase não mais oxigena o sangue e
a pressão arterial cai a ponto de o sangue não mais circular direito: é
o estado de coma que se não for atendido pode levar à morte.
Literalmente centenas ou mesmo milhares de pessoas morrem todo ano na
Europa e Estados Unidos intoxicadas por heroína ou morfina. Além disso,
como muitas vezes este uso é feito por injeção, com frequência os
dependentes acabam também por pegar infecções como hepatite e mesmo
AIDS. No Brasil, uma destas drogas tem sido utilizada com alguma frequência por injeção venosa: é propoxifeno (principalmente o
Algafan®). Acontece que esta substância é muito irritante para as veias,
que se inflamam e chegam a ficar obstruídas. Existem vários casos de
pessoas com sérios problemas de circulação nos braços por causa disto.
Há mesmo descrição de amputação deste membro devido ao uso crônico de
Algafan® .
Outro problema com estas drogas é a facilidade com que elas
levam à dependência, ficando as mesmas como o centro da vida das
vítimas. E quando estes dependentes, por qualquer motivo, param de tomar
a droga, ocorre um violento e doloroso processo de abstinência, com
náuseas e vômitos, diarreia, câimbras musculares, cólicas intestinais,
lacrimejamento, corrimento nasal, etc, que pode durar até 8-12 dias.
Além do mais o organismo humano se torna tolerante a todas
estas drogas narcóticas. Ou seja, como o dependente destas não mais
consegue se equilibrar sem sentir os seus efeitos ele precisa tomar cada
vez doses maiores, se enredando cada vez mais em dificuldades, pois
para adquiri-las é preciso cada vez mais dinheiro.
Contraindicações
- Hipertensão craniana como na meningite;
- Gravidez;
- Insuficiência renal;
- Insuficiência hepática;
- Juntamente com outros depressores do SNC, como álcool, benzodiazepinas e barbitúricos. Nem com antipsicóticos ou antidepressivos;
- Pacientes alérgicos a substâncias providas da papoula.
É mais frequente ser utilizada o seu derivado, a heroína.
Apresenta duas características que a torna droga de abuso
particularmente perigosa: produz euforia e bem estar, mas a sua ação
necessita de doses cada vez maiores para se manter ao mesmo nível -
fenômeno de tolerância medicamentosa.
Produz dependência física (universal) e psicológica
(subjetiva). A dependência física surge 6-10 horas depois da última
dose e caracteriza-se por síndrome do peru molhado, definido por
tremores, ereção dos pelos (pele de galinha), suores abundantes,
lacrimejamento, rinorreia, respiração rápida, temperatura elevada,
ansiedade, anorexia, dores musculares, hostilidade, vômitos e diarreia.
Um sinal importante é a miose (constrição da pupila do olho). Estes
sinais só desaparecem com a administração de um opióide, geralmente de
forma instantânea, e são máximos após 2-3 dias, depois do qual
desaparecem gradualmente até ao quinto dia. O sofrimento do
toxicodependente é considerável.
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